sábado, 18 de outubro de 2014

O problema do basquete feminino é a quantidade, diz Zanon

Crédito: divulgação

Na última quinta-feira (16), o técnico Luiz Augusto Zanon esteve em Sorocaba para comandar o São José em seu primeiro amistoso antes do Novo Basquete Brasil. A Águia do Vale caiu cedo no Campeonato Paulista ao ser eliminada pela Winner/Limeira, mas só agora conseguiu marcar um jogo-treino, isso por causa das mudanças no elenco e da ausência do treinador. A partida foi vencida pela Liga Sorocabana: 87 x 82.

Zanon esteve no comando da seleção feminina no Mundial da Turquia, realizado no mês passado, quando o Brasil foi eliminado logo na primeira rodada do mata-mata para a França, por 61 a 48, terminando o torneio com três derrotas e apenas uma vitória, justamente diante do Japão na primeira fase.

Enquanto o treinador estava com o mundial, o armador Manny Quezada deixou o time joseense, que recontratou Andre Laws e ainda trouxe Rafael Mineiro (ex-Paulistano e com passagens por Minas, LSB e Brasília), além do norte-americano Jimmy Baxter, que estava no Obras Sanitárias da Argentina.

Além do São José, Zanon falou bastante da disputa do Mundial e também da fase precária que o basquete feminino brasileiro vive. A entrevista você confere abaixo:


- Você poderia fazer uma análise dessa preparação do São José para o NBB?

Olha, nós tínhamos planejado uma preparação, com duas semanas de parte física e outras duas semanas de tático para começarmos os amistosos. Como tivemos problemas, conseguimos fazer só a parte física, eu cheguei e ficamos sem jogadores e hoje foi o primeiro coletivo que conseguimos fazer, já que estamos treinado com o Sub-17 só com seis jogadores. Ficamos com a indefinição do (Manny) Quezada, o outro americano também não permaneceu e mais a lesão do Caio acabaram mudando nossa preparação. Achei muito bom o ritmo do amistoso de hoje, deu para ver que o time está melhor e já vamos fazer no próximo treino a inclusão do Rafael Mineiro, do Andrew Laws e do Baxter, ganhamos em quantidade e no revezamento porque não dá para jogar todos os 40 minutos.


- E esse amistoso te agradou teticamente e tecnicamente? 

Nós nem trabalhamos com o resultado, não é desmerecendo (a vitória de Sorocaba) ou não, nós trabalhamos para ver se o que treinamos está acontecendo dentro de quadra. Falta um pouco mais de postura defensiva individual no um contra um, não é na cobertura, é  jogo de contato e estamos um pouco fora disso porque estávamos treinando com os jovens. Mas achei um lado muito bom do que planejamos de modo ofensivo e conseguimos executar bastantes coisas. Foi um ótimo treino para nosso time.


- Agora falando na seleção, o Brasil venceu apenas uma partida na primeira fase diante do Japão, teve dificuldades ofensivas com poucos pontos durantes os jogos. Como você analisa a primeira fase do mundial? 

Nós fomos com o objetivo de tentar fazer seis jogos, com seis partidas você pode chegar à final ou acabar em oitavo, fazendo assim todas as fases do campeonato. Nós enfrentamos o vice-campeão europeu, que é a República Tcheca, a agora vice-mundial que é a Espanha e depois a França, que é a campeã europeia e tivemos um jogo com o Japão. Então pegamos o melhor possível para ver a referência dessas meninas.

Com certeza, daqui a quatro anos, que é o mundial, ou os Jogos Olímpicos de 2016, a evolução será grande. Ninguém esperava num mundial com dez jogadoras novas, nove e a Damiris que tinha 17 anos no último mundial, e não entrou nenhum minuto, e só tínhamos a Adriana e a Érika que já tinham participado. Para nós, a avaliação foi positiva, mas o resultado não foi o que a gente queria em dois aspectos: o resultado dos jogos e o jeito que as meninas jogaram. Elas jogaram um pouco abaixo do que esperávamos. Mas acho que num contexto geral esse é o único caminho que o basquete feminino tem para seguir, que é fazer jogos internacionais e renovação.


- Na sua avaliação, as jogadoras da WNBA (Érika, Nádia e Damiris) ficaram também abaixo do que poderiam render? 

Isso foi um ponto que pegou. Nossas jogadoras da WNBA produziram menos que as jogadoras que vieram dos outros clubes. A (Sandrine) Gruda, da França (que joga na Rússia) teve uma atuação muito boa, a Sancho Lyttle da Espanha (que joga na Turquia), que é uma americana, fez todos os jogos muito bem.

Mas não foram elas a diferença, foi um contexto geral. Talvez se tivéssemos vencido a República Tcheca, jogaríamos com um adversário um pouco melhor, que seria o Canadá (5º colocado), mas é mais fraco que a França, e seria melhor. Saímos com quatro jogos que poderiam ser três, o objetivo nosso era fazer seis jogos, o que seria uma coisa muito boa e acho difícil culpar as jogadores. Não tem jogadora ou comissão, tem a seleção brasileira que poderia ter um rendimento mais alto.


- No cenário do basquete feminino brasileiro, como o fechamento de equipes como Brasília e Rio Claro atrapalha a seleção? 

Legal, é a primeira vez que me perguntam isso. Atrapalha demais, porque a grande diferença do basquete feminino para o masculino é o número de equipes e o nível do campeonato. Estamos defasados com a Europa, você vê que a intensidade que o feminino europeu joga é quase como o que a gente joga no masculino aqui.

As meninas fazem fundamentos do jogo com a intensidade altíssima. Com o fechamento de equipes, estamos na contramão do que queremos na seleção, que é ter mais jogadoras selecionáveis para que o campeonato também melhore e com mais equilíbrio entre as equipes. O fechamento de mais equipes é o sinal de que será cada vez mais difícil surgir grandes talentos esporádicos como Hortência e Paula no basquete feminino e nós temos que trabalhar com o número mais escasso de jogadoras.


- Por mais que tenhamos outra equipe em Recife, o Unissau/América, eu conversei aqui em Sorocaba com Antonio Carlos Vendramini e ele revelou que inclusive a equipe de Americana, atual campeã da LBF, possui dificuldades de arrumar investidores. O basquete feminino está ficando inviável? 

Olha, no Brasil ainda, para os clubes, está melhor fazer basquete feminino do que o masculino porque a LNB não custeia os clubes, que acabam pagando tudo. Já a LBF custeia algumas taxas de arbitragem e viagens são pagas pela liga, então o clube só tem a obrigação salarial. É um grande ganho para o feminino, é como no começo do NBB, mas a visibilidade do basquete feminino é bem inferior.

Até porque a Érika, a Adrianinha que parou de jogar, elas não são exploradas (midiaticamente), acho que precisávamos criar os ídolos para ajudar a aparecer mais jogadoras. Hoje eu te falo, com certeza, para um clube, fazer basquete feminino fica mais barato falando em salário e de gastos que você tem com o campeonato, porque a LBF custeia muita coisa.


- O problema do basquete feminino também é a base? 

O problema da base é gerar, criar mais pólos de basquete. Sorocaba, por exemplo, já foi um celeiro do basquete feminino e hoje não tem equipe. E o basquete feminino hoje tem poucas meninas, jovens jogando e precisávamos aumentar isso. A LBF pode ter mais equipes. É o que eu falei antes, é a escassez de jogadoras, vejo isso na seleção, não tenho um número grande, tenho um número restrito de jogadoras a convocar dentro de uma faixa etária que possa jogar na seleção. O problema do basquete feminino é a quantidade.

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