quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Pioneiro da NBA no Brasil, Álvaro José vê parceria entre NBA e LNB como um sonho


Álvaro José dispensa grandes apresentações. Quem tinha uma TV ligada nos domingos dos anos 80 e 90 ou gosta de Jogos Olímpicos já conhece sua voz, seu estilo de comentar e sua grande memória esportiva.

Mas ele não é só um grande conhecedor de Olimpíadas, é também um dos pioneiros em algo no Brasil que não para de crescer e que gostamos muito: a NBA. Com Luciano do Valle ele dividia uma apertada cabine nas arenas norte-americanas que possuía na maioria das vezes apenas um telefone e assim, segundo ele mesmo, jamais pensou que a NBA poderia estar no Brasil e menos ainda junto com a Liga Nacional de Basquete.

Dos diversos duelos entre Paula e Hortência ficaram as memórias e do evento que marcou o aperto de mãos entre LNB e NBA, um bom futuro para o nosso basquete. Confira abaixo a entrevista com Álvaro José, atualmente na Rede Record:


Como um dos pioneiros da NBA junto do Luciano do Valle, como você analisa este dia no Pinheiros (11/12), data da assinatura do contrato entre LNB e NBA?

Parece um sonho. Porque queira ou não, o que falta para o basquete brasileiro não é talento, é organização e desenvolvimento que a NBA possui. Então se o Brasil fizer a mesma coisa que a NBA faz, vai ficar muito fácil. Eu sou a favor, por exemplo, que se copie da NBA a Liga de Desenvolvimento, que haja uma parceria entre as ligas de desenvolvimento também, de jogadores norte-americanos com certa idade poderem jogar aqui e brasileiros lá. Imagina a diferença que isso pode fazer.

Desde quando você começou a fazer transmissões nos ginásios dos Estados Unidos até agora, chegou a imaginar que a NBA estaria aqui no Brasil?

Não. Isso eu falei para o Samy (Vaisman), que é o responsável pela comunicação da NBA no Brasil, que foi um caminho muito grande e brilhante que eles percorreram e particularmente eu nunca imaginei que poderíamos ter isso no Brasil. Na verdade foi um crescimento muito significativo e hoje eu creio que o basquete brasileiro vá voltar aos seus dias de glória.

Você acha que essa parceria pode estimular as TVs abertas a também procurar o basquete em sua grade?

Sim, embora a gente não possa negar que a segmentação é uma realidade no mundo. Há um tempo, por exemplo, uma TNT nos Estados Unidos não tinha uma audiência significativa e hoje tem a mesma coisa que uma TV aberta, 200 milhões de pessoas assistindo. Então isso vai acontecer aqui. Hoje a TV por assinatura chega a 19,5 milhões de lares, então você multiplica por 3,2 e passa de 65 milhões. Então você tem 65 milhões de lares assistindo TV por assinatura e esse número vai aumentar, vai ser um canal igual a tantos outros. Tem canal aberto em São Paulo que está perdendo audiência não para um cabo, mas para 15 cabos. 

Há algum caminho para se quebrar a monocultura do futebol?

Depende de talento. Se você voltar a ter uma geração do vôlei como a Geração da Prata (1984), ou mesmo a medalha de ouro de 2004 atuando aqui e com o êxodo de jogadores de futebol, você quebra a hegemonia. Hoje o Brasil está começando a ter arenas em condições de receber grandes eventos. Você mencionou ginásio, eu nem chamo de ginásio os locais que eu ia fazer jogo de basquete, eram estádios. Se pensar que a primeira final da NBA transmitida para o Brasil ao vivo e in loco, foi em 1988, nós fizemos de Los Angeles, no The Forum que tinha capacidade para quase 30 mil espectadores. 

Mas o rival veio de onde? De Detroit, e o jogo lá foi no Pontiac Silverdome (hoje abandonado), onde o Brasil jogou com a Suécia na Copa de 1994, ou seja, 82 mil espectadores e teto retrátil. Então acho que tudo isso também faz uma grande diferença. Eu fiz o All-Star Game de 1996, e lá me assustou, eu fiz no Alamo Dome em San Antonio, é uma coisa gigantesca. O sujeito que tá lá em cima na arquibancada não vê o jogo, mas sente a emoção de estar na arena.    

O sujeito não vê o jogo, mas ele tem o entretenimento.

Tudo, tudo. Comida barata, tem televisores com a exibição do jogo. Em 1997 no United Center a gente ficava numa posição bem acima, nas finais com o Jordan e tinha televisores logo à frente além dos monitores. Você está no clima quando dá aquele barulho da entrada dos jogadores. Você está no melhor lugar do planeta.

Você comentou que há uma melhoria nas arenas brasileiras, mas você considera a falta desses aparelhos um empecilho para que o chamado esporte amador cresça?

Não, eu acho que o esporte em si e a base das seleções brasileiras vieram do interior de São Paulo. Os clubes do interior fazem uma grande diferença. Só existia uma grandeza entre Paula e Hortência porque existia Sorocaba e Piracicaba. Se fossem bairros em São Paulo não teríamos a mesma repercussão. Então as cidades fizeram a grande diferença, Jogos Abertos do Interior e creio muito na força do interior de São Paulo e no interior do Brasil para fazer esse desenvolvimento.

Eu tive a oportunidade de entrevistar o Antônio Carlos Vendramini em Sorocaba, ele chegou a ficar emocionado no ginásio. E você, o que se recorda dessa época de ouro do basquete feminino brasileiro?

Eu xingava muito, porque em primeiro lugar, indo com o carro da Bandeirantes, era tudo lotado em volta do ginásio (risos). Você tinha que parar muito longe e segundo a dificuldade de se comer ao lado, porque Sorocaba não era uma cidade como é hoje. Hoje a cidade é um negócio incrível, restaurantes excelentes, pessoal bacana, universidades. Mas naquela época, a parte ali do ginásio (Vila Hortência), era uma região meio esquecida, bairro antigo. Agora você tocou num ponto, Minercal e Unimep, aquilo não existia, era uma coisa fora do comum. 

Várias vezes eu apresentava eventos, saía com o próprio carro de Sorocaba e era fácil, tem boas estradas e a gente não via só uma festa da cidade, e sim da região de Itu, Salto... Você tinha ali uma região inteira em volta e isso também acontecia em Piracicaba, ali tinha placa de Capivari, Campinas. Era uma coisa que se formos parar para pensar, foi um boom no esporte e hoje as cidades possuem sim condições de ajudar muito na manutenção de times.

Agora, e o talento? Existe no mundo uma Paula e uma Hortência? Estava vendo aqui o Marcel e o Marquinhos, só faltou mesmo o Oscar, que eram dirigidos pelo Claudio Mortari no Sírio nos anos 70 e 80, não tem esses jogadores mais e isso é normal.


Mas nós não temos esses jogadores aqui porque hoje quase todos eles são atraídos pela NBA?

O Marquinhos, quando entrou no time dele na Itália, foi no lugar de Kresimir Cosic (foto). Na hora que você pesquisar no Google quem foi Cosic, ele deu a medalha de ouro para a Iugoslávia em 1980 e foi o grande jogador da Iugoslávia e era ele que na era pré-NBA botava os americanos para dançar. A Iugoslávia foi campeã em 1970, o Brasil foi vice com uma grande atuação do Edvar Simões e os Estados Unidos tinham o Bill Walton, que depois foi campeão no Portland Trail Blazers em 1977 e a Iugoslávia anulou Bill Walton para você ver o nível daquela época. O Brasil só se deu bem nesse campeonato porque tinha uma geração nova chegando jogando com a geração antiga, inclusive com o Wlamir Marques jogando esse campeonato.     

E para encerrar, o que você acompanha do NBB? Vai a jogos, vê na TV?

Assisto sim. Tive dois fins de semana de trabalho em Brasília e fui ver os jogos do time no ginásio. Eu vejo hoje o NBB com uma estrutura muito boa nas ideias da NBA e acho que agora com essa parceria pode ter um crescimento muito significativo em curto espaço de tempo.

Falta a LBF "copiar" o NBB e procurar o basquete norte-americano?

A NBA e WNBA dizem que não, mas as ligas conversam. Aqui teríamos de ter mais conversas e acho que o desenvolvimento do feminino é prioritário porque queira não ou não, nos tempos recentes - só piscar o olho e voltar 20 anos -, o Brasil foi campeão mundial de basquete e não podemos esquecer isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário